sexta-feira, agosto 04, 2006

Sons estridentes

Estou a “apanhar seca”! Vim cumprir o período de férias de verão numa pequena aldeia da costa oeste. (Note-se que a aplicação do verbo cumprir é propositada e utilizo-a dado não ser um aficionado de actividades veraneantes ou mesmo de férias, antes pelo contrário). Aborreço-me. Gosto de ter coisas para fazer! Uma maneira de combater o tédio (e bastante proveitosa por sinal) é aproveitar o tempo para analisar algumas situações do quotidiano que de outra forma não o faria…

Serve este intróito para dar o mote a este post que, consiste apenas em pequenas considerações sobre um hábito em que o tuga é pródigo, principalmente nas aldeias: o falar/gritar em altos berros nos lugares públicos, geralmente acompanhado de uma sinfonia de palavreado não recomendável a menores de 16 anos.

Estava eu no café/tasca a beber tranquilamente o meu café quando dispararam os alarmes de alerta dos meus tímpanos. Eis “pois senão quando” um mui honrável representante do nosso Zé Povinho, visivelmente empenhado em fazer valer o seu ponto de vista numa discussão (da mais alta importância – ao que percebi a localização de umas vinhas e seus respectivos proprietários) se levanta de rompante e começa a vociferar em altos berros numa voz de barítono, sintomática da utilização corrente do injustamente, mal afamado, bagaço, “que não! Que tinha razão sim senhor, olha que ca$%R/! Que o outro se fosse f%/()( porque ele tinha visto sim senhora, com os olhos que a terra lhe à de comer”.

Não pude deixar de observar o seguinte: 1º - o ter recorrido a “sim senhora” por oposição a “sim senhor”, já que gritava, ao que creio piamente, ser um espécie do sexo masculino, mas numa atitude, contudo, elogiável, já que na impossibilidade de decorar o dois géneros optou pelo feminino, mostrando uma educação exemplar; 2º - a utilização de tão bela e popular descrição de visionamento, recorrendo para isso à, outrora, tão popular descrição dos acontecimentos post-mortem; 3º - o uso estudado dos palavrões, sem porém, ter conseguido atingir um efeito tão dramático como o dos seus semelhantes nortenhos, o que aliás era de esperar, pois como diz uma amiga minha natural e residente nessa região, no sul não se sabe bardajar com a convicção necessária.*

* Sobre este assunto poder-se-ão tecer também algumas considerações… Poder-se-á dizer então que, o palavrão é património de algumas áreas geográficas? Se sim, será relevante estudar as origens e aplicações destes e atribuir o mérito a quem de origem… Imaginem-se passeando pelo nosso país e encontrarem sinalética informativa como por exemplo: Gaia – casa da produção de x casta de vinho do porto e do C%/() ma f&(()=…

2 comentários:

  1. lol

    A coisa que ouvi mais parecida com algum palavrao foi "a shakira é uma GATAFANHAZITA!"...

    Fugir ao quotidiano tem muito que se lhe diga...

    ResponderEliminar
  2. 'Tás com a mania que és esperto então fica sabendo que quanto à tua frase aqui copiada:

    "(...)com os olhos que a terra lhe à de comer”."

    se escreve "há" do verbo haver e não a contracção do artigo "a" com a preposição "a" que se escreve "à" como tu o fizeste.

    ResponderEliminar